sábado, 28 de dezembro de 2013

A Casa Caiu - A Verdade Apareceu e a Ditadura tem sua Máscara Arrancada.

No balanço divulgado na segunda-feira 21, a Comissão Nacional da Verdade fez um enorme favor ao Brasil. A CNV revelou que as torturas ocorridas durante a ditadura não foram uma resposta à luta armada, como afirmaram por anos o ex-integrantes do regime e seus apoiadores, mas tiveram início logo após a derrubada de João Goulart. É a desconstrução de uma das maiores mentiras políticas das últimas décadas no Brasil.
As palavras da historiadora Heloísa Starling, assessora da comissão, não deixam dúvidas. Segundo ela, a tortura foi “introduzida como padrão de repressão, enquanto técnica de interrogatório nos quartéis, a partir de 1964” e explodiu a partir de 1969, depois do Ato Institucional 5 (publicado no fim de 1968). A CNV identificou centros de detenção e tortura a partir de 1964 e verificou que tais violações não eram praticadas de forma pontual. Eram, sim “a base da matriz da repressão da ditadura".
Por anos, os admiradores da ditadura brasileira afirmaram que o recurso à tortura foi uma resposta à luta armada. Violar os direitos humanos de brasileiros seria, segundo esta versão, a única forma de evitar um “mal maior”, a implantação de um regime comunista no Brasil. A lógica é semelhante à adotada por quem apoia as torturas realizadas pela CIA na “guerra ao terror” dos Estados Unidos. Neste clima messiânico de combate ao “mal”, vale tudo e qualquer coisa para evita-lo, até mesmo abrir mão de valores democráticos e, em último caso, da própria democracia.
No caso do Brasil, o descalabro deste tipo de argumento é ainda mais agudo. Se o terrorismo contra interesses norte-americanos é real, o mesmo não se pode dizer da ameaça comunista por essas bandas.
Como escreveu o historiador Rodrigo Patto Sá Motta, o temor anticomunista no Brasil teve “papel preponderante no processo de arregimentação dos grupos adversários ao governo [Goulart], fornecendo o principal argumento que unificou os setores de oposição”. Os líderes do golpe realmente acreditavam na ameaça comunista, escreve Sá Motta, mas tinham uma “avaliação imprecisa da extensão” dela e, ainda assim, “se esforçaram para convencer o público de que os bárbaros estavam à porta”. Não é difícil entender como esta campanha, somada à lógica de que vale tudo para evitar o barbarismo (inclusive adotar os mesmos métodos dos bárbaros) culminou na prática da tortura.
A fantasia a respeito do “perigo vermelho” continua a grassar, como revela a ironia da comunidade do Facebook Golpe Comunista 2014 no Brasil, mas aqueles que tentam legitimar a prática da tortura diante da atuação dos grupos da luta armada talvez fiquem ao menos um pouco mais constrangidos.
Apesar do avanço, falta ao Brasil, ainda, desvendar outra mentira criada pela ditadura: a de que a Lei da Anistia é fruto de um “acordo político” entre governo e oposição. Criada para anistiar aqueles que combatiam a ditadura, a lei foi travestida de perdão eterno aos agentes estatais brasileiros que violaram direitos humanos da população brasileira. Tal mentira persiste apesar de a anistia ter sido aprovada apenas pela Arena (o MDB votou em peso contra a lei), e após grandes protestos contra ela. De forma vexatória, a falácia foi referendada pelos ministros do STF Eros Grau, Ellen Gracie, Cezar Peluso (já aposentados), Cármen Lúcia, Gilmar Mendes, Marco Aurélio e Celso de Mello em 2010. Enquanto esta mentira persistir, o Estado brasileiro continuará em dívida com sua população.

segunda-feira, 23 de dezembro de 2013

A Lei que Cria o Criminoso

As ciências criminais puseram em evidência a relatividade do conceito de infração, que varia no tempo e no espaço, de tal modo que o que é ‘delituoso’ em um contexto é aceitável em outro. Conforme você tenha nascido num lugar ao invés do outro, ou numa determinada época e não em outra, você é passível – ou não – de ser encarcerado pelo que fez, ou pelo que.
Não há nada na NATUREZA do fato, na sua natureza INTRÍNSECA, que permita reconhecer se se trata ou não de um crime – ou de um delito. O que há em comum entre uma conduta agressiva no interior da família, um ato violento cometido no contexto anônimo das ruas, o arrombamento de uma residência, a fabricação de moeda falsa, o favorecimento pessoal, a receptação, uma tentativa de golpe de Estado etc.? 
Você não descobrirá QUALQUER denominador comum na definição de tais situações, nas motivações dos que nelas estão envolvidos, nas possibilidades de ações visualizáveis no que diz respeito à sua prevenção ou à tentativa de acabar com elas. A única coisa que tais situações têm em comum é uma ligação completamente artificial, ou seja, a competência FORMAL do sistema de justiça criminal para examiná-las. O fato de elas serem definidas como 'crimes' resulta de uma decisão humana modificável; O CONCEITO DE CRIME NÃO É OPERACIONAL. Um belo dia, o poder político para de caçar as bruxas e aí não existem mais bruxas.

Até 1975, na França, o marido podia fazer encarcerar sua mulher por adultério. Depois desse ano, uma lei que reformou o divórcio DESCRIMINALIZOU tal conduta e, daí em diante, a mulher adúltera não pôde mais ser processada perante um juiz criminal.

De um dia para o outro, o que era delito deixa de sê-lo e aquele que era considerado delinqüente se torna um homem honesto, ou, pelo menos, não tem mais que prestar contas à justiça penal. É a lei que diz onde está o crime; ‘É A LEI QUE CRIA O CRIMINOSO’.


LOUK HULSMAM, 1993, páginas 63 e 64, grifos no original.

domingo, 22 de dezembro de 2013

Midia e Sistema Penal - Por Nilo Batista

Sabe-se hoje que a criminalização secundária – realizada seletivamente, e ainda assim na dependência de fatores aleatórios que, dentre outros, vão da iniciativa ou omissão da vítima em registrar o delito ao interesse
ou desinteresse da agência policial em investigá-lo – a criminalização secundária não passa de ser pífia amostragem, construída segundo o jogo dos estereótipos criminais e das vulnerabilidades sociais, do grande incognoscível da criminologia: a criminalidade real (ou seja, a totalidade dos fatos que poderiam subsumir-se na programação criminalizante primária, nas leis penais). Por isso mesmo se afirma que o poder criminalizante secundário é “pouco significativo no marco total do controle social”, e que a criminalização secundária “é quase um pretexto” para um “formidável controle configurador positivo da vida social, que em
nenhum momento passa pelas agências judiciais” ; a vigilância sobre a população. Detenções breves, esclarecimentos de identidade, observação das atividades, registros oficiais ou paralelos, “grampos” telefônicos – autorizados ou não –, acesso clandestino a informações sigilosas bancárias ou fiscais são alguns exemplos desse poder de vigilância que o sistema penal, mesmo paralela ou subterraneamente, exerce. O vigilantismo nasceu no capitalismo industrial, e devemos a Bentham sua formulação mais sincera e alucinada. O panóptico não era uma proposta restrita à penitenciária, mas estendia-se às fábricas, às escolas, aos asilos e hospitai. Inteiramente compatível com a idéia benthamiana de que os pobres também deveriam usar uniforme, o panóptico era o princípio básico de uma sociabilidade da vigilância muito cara ao empreendimento burguês-industrial. A prevenção extremada e invasiva deste modelo se inviabilizou espacialmente, na segunda metade do século XIX, com a modernização e o crescimento das cidades. Substituído, na vigilância do disperso exército de reserva da mãode-obra industrial, por um artefato “científico” do positivismo, a periculosidade pré delitual que poderia ativar um medida de segurança detentiva, o princípio hibernaria à espera das condições tecnológicas que lhe concederiam um segundo e glorioso ciclo. Nessa linha, Arlindo Machado pergunta: “o que são os modernos sistemas de vigilância
senão a atualização e a universalização do panóptico”?

Nilo Batista pag. 10 - Midia e Sistema Penal.

Manifestante foi Condenado ----- E ainda dizem que estamos em uma Democracia.

Na semana passada, Vieira foi transferido da cadeia pública de Japeri para o presídio de Bangu 5, no subúrbio da capital fluminense, onde deve cumprir 5 anos e 10 dias de prisão, em regime fechado, pela posse de duas garrafas de líquidos que, segundo a sentença, são considerados "aparato incendiário ou explosivo".
Vieira nega a posse dos objetos, descritos na sentença como coquetel molotov. "Não é justo", diz. Ele alega que não participava das manifestações. Na última quinta-feira, aceitou receber o Estado no Presídio Elizabeth Sá Rego, onde aguarda que advogados dedireitos humanos recorram da sentença do juiz Guilherme Schilling Duarte, proferida no dia 2.
"Não estava quebrando nada. Não estava tocando fogo em nada", diz Vieira na sala da escola da unidade do complexo prisional fluminense, que abriga mais de 20 mil detentos. No pavilhão no qual ele foi alojado havia, na quinta-feira, 908 presos.
Planejando aprender o ofício de garçom no programa de reinserção social de internos oferecido no Bangu 5, ele não se conforma com a sentença. "Estava chegando para dormir no casarão", conta.
O rapaz alega que na noite do dia 21 de junho havia chegado do trabalho para dormir na região da Lapa quando encontrou garrafas com detergente, fechadas, na entrada do prédio. A polícia reprimia uma manifestação que reunia, segundo o texto do processo, 300 mil pessoas "em prol das melhorias dos serviços públicos".
Vieira se emociona ao lembrar que foi chamado por policiais por estar com as garrafas nas mãos - naqueles dias havia manifestantes que levavam garrafas de vinagre para combater os efeitos do gás lacrimogêneo da PM e outros usavam os recipientes como bombas incendiárias.
O jovem diz que atravessou a rua para atender ao chamado dos policiais. A partir daí, segundo ele, foi preso, espancado, e levado para a delegacia. Não saiu mais da cadeia. Cinco meses depois, foi julgado como réu e preso. E pegou pena máxima para o artigo 16 (Lei 10.826/03).
Risco. Na sentença, o juiz Guilherme Schilling Duarte descreve o relato de policiais testemunhas da prisão. "O réu ora presente entrou naquela loja (o casarão) com uma mochila e em seguida saiu com dois frascos em suas mãos", diz o texto. E prossegue afirmando que "as garrafas encontradas com o réu tinham estopim no gargalo" e que "o incendiamento daqueles artefatos seria capaz de colocar em risco as demais pessoas".
O juiz prossegue: "Atente-se que o réu declarou uma versão pueril e inverossímil, no sentido de que teria encontrado as duas garrafas lacradas - uma (sic) segundo ele contendo ‘Pinho Sol’ e outra água sanitária". E fixa a sentença: pena de 4 anos e 10 dias. Em seguida, por considerar o rapaz "reincidente" - ele já havia sido preso por roubo, em 2006, o juiz acrescenta mais um ano de cadeia.
De acordo com o diretor do presídio de Bangu 5, Émerson Luís Neves Paiva, Vieira já era um conhecido. O rapaz cumpriu 1 ano e 8 meses de prisão por roubo.
"Ele é um sujeito tranquilo, não devia mais nada", conta o diretor. "A falha dele", segundo Paiva, foi não comparecer em juízo para assinar presença exigida quando o preso tem o benefício da liberdade condicional. "Mas ele não era um foragido."
Outras garrafas. No presídio, Vieira sustenta a versão segundo a qual as garrafas que carregava na hora da prisão não eram aquelas apresentadas pelos policiais. Sem receber visitas na cadeia, ele nem sabe se a família já foi avisada da condenação. Filho de família de baixa renda da Penha, na periferia do Rio, o jovem abandonou a escola na 5.ª série.
Sem profissão definida, vivendo como catador de latas e vendendo objetos usados, Vieira conta com uma redução da pena para recomeçar a trajetória interrompida numa noite de manifestações.
ONG pede nova perícia e pretende apelar da sentença
O advogado Felipe Coelho, da ONG Instituto de Defensores de Direitos Humanos (IDDH) do Rio, disse na sexta-feira que o primeiro recurso em defesa de Rafael Braga Vieira foi uma ação de embargo para preservar as provas do processo, que a sentença ordena que sejam destruídas. "Queremos fazer uma nova perícia. Depois, vamos entrar com a apelação da sentença", afirma o advogado. Para Coelho, Vieira está preso "porque é negro e pobre".
O advogado diz que o IDDH já encaminhou documento denunciando o caso a organismos internacionais de direitos humanos na ONU. Para Coelho, Vieira não tem engajamento político e não participou de movimento nenhum reivindicatório. "Ele é vítima de uma visão deturpada sobre moradores de rua no Rio. Se fosse branco, com condição social melhor, pensariam duas vezes antes de prender e condenar", diz o advogado.

"Rafael estava no lugar e na hora errados", diz a advogada Raphaela Lopes, também do IDDH. Os defensores tentarão argumentar, para revisão de decisão, que Vieira é um "preso político". 

Grande Mujica - Um dia teremos um Político Assim.

JOSÉ MUJICA (Presidente do Uruguay) sobre indicaçao para prémio nobel da Paz... Assim é que se fala !!!! Embrulha !!! “Estão loucos. Que prêmio da paz, nem prêmio de nada. Se me derem um premio desses seria uma honra para os humildes do Uruguai para conseguirem uns pesos a mais para fazer casinhas... no Uruguai temos muitas mulheres sozinhas com 4, 5 filhos porque os homens as abandonaram e lutamos para que possam ter um teto digno... Bom, para isso teria sentido. Mas a paz se leva dentro. E o prêmio eu já tenho. O prêmio está nas ruas do meu país. No abraço dos meus companheiros, nas casas humildes, nos bares, nas pessoas comuns. No meu país eu caminho pela rua e vou comer em qualquer bar sem essa parafernália de gente de Estado.”

sexta-feira, 20 de dezembro de 2013

QUEM É A DIREITA BRASILEIRA?

O sr. Reinaldo Azevedo, a quem injustamente referiu-se a ombudsman da Folha de S. Paulo como rottweiler do conservadorismo, continua a desmentir sua colega de redação. Qualquer comparação com uma raça canina tão forte e cheia de personalidade é realmente despropositada. Se o nobre animal lesse jornal, provavelmente se sentiria insultado. O colunista, tanto pelas posições que defende quanto por estilo, está mais para cachorrinho de madame.
Deu-nos mais uma prova, no dia 6 de dezembro, em artigo intitulado "Direita já!", de qual é o seu pedigree. A ideia básica é que falta, no Brasil, uma força política que tenha competitividade eleitoral e, abraçando claramente valores de direita, faça oposição ao governo. Ou que acredite na hipótese de se tornar dominante exatamente por defender esses valores. Ainda mais longe vai o santarrão do conservadorismo: o PT provavelmente continuará a governar porque não seria possível "candidatura de oposição sem valores de oposição".
O que Azevedo esconde do leitor, por ignorância ou má fé, são as razões pelas quais a direita brasileira atua disfarçada. Esse campo ideológico, afinal, esteve historicamente comprometido com a quebra da Constituição, o golpismo e a instituição de ditaduras. Seus valores de raiz são o autoritarismo, o racismo de índole escravocrata, o preconceito social, o falso moralismo e a submissão às nações que mandam no mundo. Vamos combinar que não é fácil conquistar apoios com essa carranca.
Não é de hoje que direitistas recorrem a truques de maquiagem para não serem reconhecidos. A mais comum dessas prestidigitações tem sido a de se enrolar em supostas bandeiras democráticas para cometer malfeitos. Exemplo célebre é o golpe militar de 1964, quando bateram nas portas dos quartéis e empurraram o país para uma longa noite de terror, em nome da liberdade e da democracia.
A ditadura dos generais foi o desfecho idealizado pela "direita democrática", depois que se viu sem chances de ganhar pelo voto e tomou o caminho da conspiração. O suicídio de Getúlio Vargas sustou a intentona por dez anos, mas os ídolos de Azevedo estavam à espreita para dar o bote. As provas são abundantes: estão presentes não apenas nos discursos de personalidades da "direita democrática" de antanho, mas também nas páginas dos jornalões da época, que clamavam pela ruptura constitucional e a derrubada do presidente João Goulart.
Algumas dissidências desse setor, a bem da verdade, tentaram se reconciliar com o campo antiditadura, depois de largados na estrada pelos generais ou frustrados com sua truculência. A maioria dos azevedinhos daquele período histórico, no entanto, seguiu de braços dados com a tortura e a repressão. Eram ativistas ou simpatizantes do partido da morte. Batiam continência como braço civil de um sistema talhado para defender os interesses das grandes corporações, impedindo a organização dos trabalhadores e massacrando os partidos de esquerda.
O ocaso do regime militar trouxe-lhes isolamento e desgaste. A direita pró-golpe, mesmo transmutada em partidos que juravam compromisso com a democracia reestabelecida, não teve forças para forjar uma candidatura orgânica nas eleições presidenciais de 1989. Acabaram apoiando Fernando Collor, um aventureiro de viés bonapartista, para enfrentar o risco representado por Lula ou Brizola. O resto da história é conhecido.
Depois deste novo fracasso, as forças reacionárias ficaram desmoralizadas e sem chão. Trataram, em desabalada carreira, de aderir a algum pastiche que lhes permitisse sobrevida, afastando-se o quanto podiam da herança ditatorial que lhes marcava a carne. Viram-se forçadas a buscar, entre as correntes de trajetória democrática, uma costela a partir da qual pudessem se reinventar. Encontraram no PSDB, capturado pela burguesia rentista, o instrumento de sua modernização e o novo organizador do bloco conservador.
A mágica acabou, porém, quando o PT chegou ao Planalto, deslocando para a esquerda boa parte do eleitorado que antes era seduzido pelo conservadorismo. Esse foi o resultado da adoção de reformas que modificaram e universalizaram providências antes circunscritas a tímidas medidas compensatórias, como parte de um projeto que permitiu a ascensão econômico-social da maioria pobre do país. Tais conquistas tingiram de cores fúnebres, na memória popular, o modelo privatista e excludente sustentado pelo tucanato.
Enquanto a direita republicana tratava desesperadamente de estabelecer vínculos entre o sucesso do governo petista e eventuais políticas do período administrativo anterior, evitando reivindicar seu próprio programa, outro setor deu-se conta que, sem diferenciação clara de projetos, seria muito difícil reconquistar maioria na sociedade e romper a dinâmica estabelecida pela vitória de Lula em 2002.
Não haveria saída, contra o petismo, sem promover a mobilização político-ideológica das camadas médias a partir de seus ímpetos mais entranhadamente individualistas, preconceituosos e antipopulares. Ao contrário de uma tática que encurtasse espaços entre os dois polos que definem a disputa nacional, o correto seria clarificar e radicalizar o confronto.
As legendas eleitorais do conservadorismo titubeiam a fazer dessa fórmula seu modus operandi, mas os meios tradicionais de comunicação passaram a estar infestados por gente como Azevedo e outros profetas do passado. A matilha não tem votos para bancar nas urnas uma alternativa à sua imagem e semelhança, é verdade. Seria um erro, no entanto, subestimar-lhe a audiência e o papel de vanguarda do atraso que atualmente exerce nas fileiras oposicionistas.
Até porque conta com uma fragilidade da própria estratégia petista, de melhorar a vida do povo através da ampliação de direitos e do consumo, mas atenuando ao máximo o enfrentamento de valores e o esforço para modificar as estruturas político-ideológicas construídas pela oligarquia, especialmente os meios massivos de comunicação. O PT logrou formar maioria eleitoral a partir dos avanços concretos, mas não impulsionou qualquer iniciativa mais ampla para estabelecer hegemonia cultural e ideológica.
Seria persistir neste equívoco não dar o devido combate ao conteúdo programático do discurso azevedista. Sob o rótulo de "direita democrática", o que respira é uma concepção liberal-fascista, forjada na comunhão das ditaduras chilena e argentina com a escola de Chicago e os seguidores do economista austríaco Ludwig Von Mises.
O velho fascismo, que trazia para dentro do Estado as operações dos conglomerados capitalistas, tornando-os parasitas econômicos da centralização política, efetivamente caducou como resposta aos próprios interesses grão-burgueses. Entre outros motivos, porque retinha parte ponderável da taxa de lucro para o financiamento do aparato governamental.
A combinação entre ultra-liberalismo e autoritarismo converteu-se em um modelo mais palatável entre as elites. O Estado assumia as tarefas de repressão e criminalização das lutas sociais, na sua forma mais perversa e violenta, soltando as amarras legais e sociais que regulavam o desenvolvimento dos negócios em âmbito privado. Não eram à toa os laços afetuosos que uniam Margaret Thatcher e Ronald Reagan ao fascista Pinochet. O neoconservadorismo se trata, afinal, do liberal-fascismo sem musculatura ou necessidade de realizar seu projeto histórico até o talo.
Claro que o ladrar de Azevedo e seus parceiros não é capaz, nos dias que correm, de ameaçar a estrutura democrática do país. Mas choca o ovo da serpente pelas ideias e valores que representa. A melhor vacina para a defesa da democracia, contudo, como dizem os gaúchos, é manter a canalha segura pelo gasganete. Os latidos dos cachorrinhos de madame devem ser repelidos, antes que se sintam à vontade para morder.
Breno Altman é jornalista, diretor editorial do site Opera Mundi e da revista Samuel.

Os Pontilhados são para completar com o que você entender melhor adequar.


Nós somos ----------, porque há vários séculos, temos sido vítimas de todos os tipos de governos, que ao longo dessa tirania, foi aparecendo mais um ladrão, mais um fanático, mais um assassino mais um déspota. Nós somos ----------- porque nós achamos que não existem razões para ser explorado e para que tenhamos de trabalhar para que um grupo de sem vergonhas se tornem milionários. Nós somos -------------, porque não aceitamos nas leis que são inventadas para assassinar e sufocar o nosso grito de protesto. Nós somos ------------- porque não acreditamos nas suas guerras, em suas pátrias. Nós somos -------------- porque detestamos sua polícia, os seus generais, reis e presidentes. Nós somos ------------------, porque, ao contrário deles, sofremos com as desgraças humanas. Nós somos ----------------, porque queremos vida livre, saudável, de respeito mútuo e igualdade para os nossos filhos e filhas. Nós somos ------------ porque não agüentamos ver as lágrimas de tantas pessoas boas, humildes, que têm sido enganadas geração após geração. Nós somos -----------------, porque estamos envergonhados desse sistema, em que vemos, não só morte, mas: fome, prisões, repressão, desigualdade, e alienação além de milhões de mentiras. Nós somos --------------- porque conhecemos o seu poder, a sua força, seu terrorismo, a calúnia, vocês nos assassinam nos encarceram, nos difamam.
Chamamos de terroristas, algumas pessoas que dominam outras pessoas com bombas, tanques, armas, prisões,torturas e execuções, hospitais psiquiátricos e a mentira do inferno. Dizem que ------------- é o caos, mas na sua sociedade capitalista é que vemos criminalidade, prostituição, desigualdade, destruição, ao mesmo tempo: excesso de comida e milhões de seres humanos morrendo de fome, bombardeios de povoados, cidades, países inteiros, arrasam tudo com sua ganância causando pânico geral.
Sua ambição, seu egoísmo, sua burrice, Sua cegueira e loucura pelo poder está destruindo a você mesmo, os seu filhos e seus netos não vão querer lembrar de você, seu sistema está em caos porque é sustentado por mentiras, terror, artigos, Códigos, leis, recompensas e punições. É por isso que somos -------------------, para mudar esta sociedade positivamente, para que você se cure dessa loucura perigosa, Nós somos ----------------, porque é necessário que haja alguém para gritar suas atrocidades, porque não temos medo, como muitos não tiveram. Nós somos -------------------- nas ruas, na prisão, na cadeira elétrica, no julgamento e nos cemitérios.
Porque ser um ------------- é ser muitas coisas que você nem compreende nem tem capacidade de entender, e assim, nos assassinam desde séculos atrás, nos põem a culpa e nos aprisionam, alienam soldados e policias para que vos defendam, usam de todas as artimanhas para nos derrubar, mas, chegam a conclusão de que, para cada ------------ que vocês assassinam, nasce outro.
Não iremos lhes perdoar, não jogaremos o seu jogo, somos aqueles que não crêem em suas promessas, dói em vocês quando defendemos a liberdade e a igualdade, acreditamos na arte, no progresso, na educação, não precisamos nem de deuses, nem mestres, acreditamos nos seres humanos, na Natureza, nos direitos e deveres de cada um, queremos uma sociedade de paz, amor e respeito mútuo, uma sociedade que não parece ser nada igual a sua, queremos uma sociedade -----------.

Você trabalha o dia inteiro, E não descansa há muito tempo, Não tem direito a nada, Isso é culpa do governo!

Você recebe muito pouco, Não há como se divertir O dinheiro não sobra pra nada, Isso é culpa do Governo!

Governar não é roubar..
Político não é ladrão...
Se isso não for mentira..
Então me prove que não!

Governar não é roubar..
Político não é ladrão...
Se isso não for mentira..
Então me prove que não!

Os impostos são muito altos, Assim não há jeito de viver, Então me diga de quem é a culpa!
Isso é culpa do governo

Porque existem diferenças?
Porque existe racismo?
E até o maldito capitalismo
A culpa é toda d Governo!

Governar não é roubar...
Político não é ladrão...
Se isso não for mentira..
Então me prove que não!

Governar não é roubar..
Político não é ladrão...
Se isso não for mentira..
Então me prove que não!

-Piazitos Muertos

Quando a máscara branca torna-se negra.


Eu era um manifestante como tantos outros, exigindo pacificamente, meus direitos, eu abracei a ideia da igualdade, da mudança pacífica e fui as ruas, não apenas por 20 centavos, mas por um Brasil mais justo. 

Eu olhava outros cidadãos cantando, vibrando com alegria, com indignação, alguns com mascaras (eu inclusive), outros apenas com um sorriso. A máscara era não de um personagem, mas de uma ideia, de um "V" que feito Frankstein, se revolta contra aqueles que o criaram. Revoltado contra o "governo" que criou estas situações, achei que a mascara ajudava a exprimir uma ideia.

Nenhuma arma, apenas uma mascara plastica fina. O povo nas ruas... tudo pacífico, até que de uma rua lateral veio o barulho ritmado e seco, chamou a atenção, olhei a uns 20 metros, apareceu uma coluna de homens de cinza e preto, tomando a rua impedindo a passagem, como quem vê nuvens de tempestade, cinzas e pretas no céu, ja procurei um abrigo, bom sinal aquilo não poderia ser, achei uma árvore, pareceu um trovão, pensei durante alguns segundos se aquilo era real, pois pessoas gritavam sem violência, ninguém armado, e a tropa de choque, que chegou batendo nos escudos, simplesmente, abriu fogo.

O assobio daquela bala de borracha que deve ter passado a milímetros da minha orelha, e algo inesquecível, e o grito do jovem que foi atingido também ,a poucos metros atrás de mim. Ouvi mais tiros, e vieram as bombas de gas. Mulheres, que estava na manifestação, homens, pessoas com mais idade....sabe aquelas coisas que você não acredita, que parece ser um filme ou algo que você nunca vai ver no solo do seu pais, o governo simplesmente resolveu usar, tudo de não letal, em pessoas que,nada faziam alem de clamar por seus direitos. 

O cheiro do gás, virou o estomago, e o jovem que foi atingido no peito por uma bala de borracha estava caído gritando, surreal. Uma mascara, uma calça jeans com um moleton por baixo, uma mascara fina no rosto e uma camiseta.... A linha avançou alguns passos vi passar o primeiro "capacete branco" com cassetete nas mãos, sem conversa, sem perdão, seu "porrete" achou as costas de um rapaz que protegia uma garota próxima a ele, sabe aquela atitude romântica de abraçar alguém em uma hora de perigo, pois é ele fez bem e absorveu o golpe, que foi dado com gosto, e um sorriso pelo policial. 

O que ele fez? Por quê? Aquele segundo que passa o universo na sua mente, você vê tudo claro, sua percepção do tempo muda, saí do abrigo como muitos para longe da confusão. Ao passar ao lado do garoto no chão, vi a marca da bala de borracha no seu peito, ele estava chorando, gritando "Por que seus filhos da puta, sem violência caralho, o que eu fiz!" Peguei o garoto e o coloquei nos ombros, foi a primeira vez que pensei "você disse não ao sistema filho". 

Corri com ele nas costas por duas quadras, ouvi impactos nas portas de aço atrás de mim. Pedras? Não, a polícia atirando em mim que estava correndo, com um ferido nas costas. ( a cadência de fogo de uma 12 e lenta nunca corra em linha reta, movimentos erráticos te ajudam a não ser atingido). 

Parei em uma esquina, meus pulmões ardiam absurdo. Garoto, doí quando você respira? Não "irmão" (foi a primeira vez no ano que houve isso) que houve? Por que? (eu também queria saber, e não sei até hoje) Pressionei em volta da ferida, sem sinal de fratura, apenas o roxo do impacto e um pouco de sangue. "Saia daqui garoto"... foi quando escutei mais tiros. 

Ao contrario do que manda a cartilha minhas pernas correram na direção da "muvuca" e não para longe dela, uma quadra e meia acima, lá estava o "estado" em linha com seus escudos e gritos, "choque, choque, choque", gente no chão, alguns corriam para outras ruas e você via nitidamente pessoas de cinza e capacete branco, convergindo para cima delas, uma coreografia aterradora, alguém cai no chão e aqueles drones de cinza, erguem e baixam seus cassetetes, como se tivessem ensaiado, alguns correm outros de tanto apanhar, ficam estirados no asfalto, e os drones avançam para um, depois para outro, sempre pegando os desgarrados. 

Uma garota estava sentada, atrás de uma árvore, em pânico, fui até ela, ela estava em lágrimas, respirando mal por causa do gás, quem foi o filho da puta que acha que aquilo não é letal, a menina pelo visto tinha algum problema respiratório, deixada sozinha... Ninguem fica para trás. Ombro...correr, até fora da área do gás. Ja não são uma nem duas quadras, exame rápido, você tem problemas respiratórios? Ela moveu a cabeça acenando positivamente. Usa bombinha? Outro aceno positivo, um volume em seu bolso, bingo! Lá esta! dei a bombinha em sua mão.

Lembrei da mesma vontade de um bebe, que suga o seio da mãe, aquela garota com a bombinha. Haviam dois garotos proximos olhando...perdidos... Vocês ai, ajudem esta garota, continuem descendo a rua até não haver mais confusão, parem em um posto de gasolina que estiver aberto evitem avenidas, vão! e se foram os 3... 

O sangue começou a ferver. Por que? Soltaram um bando de cães , em cima de um rebanho... Mais barulho, gritos, e toda hora passava alguém sangrando, um supercílio aberto, uma boca um nariz, o corpo responde rápido e vc se pega correndo novamente . 

Você já não sabe onde esta, são ruas e como em um pesadelo, barulhos, gritos bombas, sirenes. Passa um helicóptero em Vôo baixo, FLIR e holofote de busca ligados. Onde eu cruzei a linha da lei ao pedir educação saúde e menos corrupção? Próximo a porta de um prédio avisto alguém. Parece um mendigo, encolhido em um dia de frio, corro ate lá. 

Mal chego perto uma mão esfolada pede." Me ajuda!" Seu rosto roxo, lábio superior inchado um dos dentes da frente pendurado pela pele na boca. "Vem irmão." (agora todo ferido é meu irmão, é meu amigo, sou eu) começamos a andar uns 20 passos depois escuto gritos. "Para filho da puta!" e o trovão

Pareceu um martelo na minha perna, minha coxa parecia ter pego fogo, a ação na hora e de se curvar sobre o ferido que eu estava dando apoio, continuamos andando no passo que dava. Foi o primeiro impacto da noite...algumas quadras depois, um pouco de água (começaram a aparecer os anjos da guarda com água, lenços com vinagre e algumas pessoas começaram a conversar com o rapaz, foi sair do gás, alguns minutos e uma água que ele já estava bem o suficiente para achar o caminho de casa.

Achei um amigo, (você não tem noção do que é achar uma cara conhecida e amiga no meio de uma situação assim) estou indo embora, essa confusão não é para mim. (Esta é a hora que você pensa em valores, em lições e tudo que você já viveu.)

Me empresta a jaqueta de couro? É sua, não se mate! Vai usar o agasalho? "risos" Puta calor!... ele voltou para casa. Agora com meios de resistir melhor. Uma jaqueta um moletom, duas calças. Hora de voltar. Foram horas intermináveis.

Cada pessoa que socorríamos, alvejados pela polícia, que sabia sim em quem estava atirando, vomitei varias vezes por causa do gás, até uma garota que estava com um lenço no rosto me estender a mão e me dar um lenço. "Aqui isso vai te ajudar." corri muito, hora com homens hora com mulheres nos braços, minhas costas receberam vários impactos, suavizados por causa do couro e do moletom, mas doíam na alma. 

O que eu estava fazendo de errado? Depois de ajudar um garoto com um skate que estava encurralado atrás de uma banca de jornal, encontramos um amigo dele. Ai brother, pega estas joelheiras, manda o pau nos porcos. Me causou uma certa surpresa comecei a olhar ao meu redor com mais atenção, algumas pessoas de preto, com escudos improvisados, estavam ajudando, se pondo entre a policia e nos que socorríamos pessoas. 

Estava ajudando uma senhora a sair da zona do gás, quando passou a primeira granada. Um garoto a chutou para um bueiro, e levantou o dedo do meio para o policial que a disparou. Mais uma pessoa fora da area de confronto. Estava correndo para acudir uma pessoa que estava caída quando vieram a segunda e a terceira. 

Estavam mirando em MIM. Dava para ver. Mascarado,desarmado, pagador de impostos em dia com todas as minhas obrigações e sob a mira de lança granadas de gás e tomando tiros de bala de borracha? 

Corri para outro lado, vieram mais duas. Acima uma linha da choque atirando com lança granadas, a esquerda uns 100 mts, vários capacetes brancos, com seus porretes, sem dó no final da rua mais acima, dava para ver os tático móveis, parados com giro flex acesos. 

O corpo finalmente mostrava sinais de fadiga, dor, sentei atrás de uma árvore tentando calcular, para onde correr. Alguém com um lenço preto no rosto, uma camiseta preta, um escudo de madeira improvisada, parou do meu lado. "Comigo!" . 

Entrei atrás dele, deu para ouvir pelo menos 3 impactos no escudo. Vai vai vai...eu corri...corri até as pernas mal aguentarem que eu parasse em pé. Quem me socorreu não sei, mas com certeza foi a diferença entre me recompor para ajudar no dia seguinte, ou ficar no hospital uma semana devido ao tratamento padrão FIFA da policia.

O que eu fiz de errado não sei, nem os jovens que apanharam naquele dia. Vi a policia batendo, vi jovens desconhecidos defendendo o povo com suas "mãos". A cada protesto, a cada novo escândalo, a cada novo desrespeito com o dinheiro público, a máscara branca, foi ficando mais negra. 

Quanto mais a polícia batia em inocentes, que demandam seus direitos que reagem a exploração, que mostram amar mais ao ser humano, do que a um partido, do que a simples posse de algo. Mais negra a máscara ficava, a máscara ficou negra. O sem violência acabou por dar lugar ao principio da reciprocidade.

Continuo a ajudar as pessoas nas manifestações, mas devido a como o Estado me tratou, questiono agora, se ele e suas maneiras , privilégios e postura quanto as reivindicações do povo, realmente me representa. 

Sou pacífico, mas uso a tática Black Bloc, pois a ação é imediata e este governo não me representa. E você ?