domingo, 25 de novembro de 2012

Epicuro envia suas saudações a Meneceu - A Busca da Felicidade na Leitura, no Estudo e nos detalhes que a vida nos proporciona


“Que ninguém hesite em se dedicar à filosofia enquanto jovem, nem se canse de fazê-lo depois de velho, porque ninguém jamais é demasiado jovem ou demasiado velho para alcançar a saúde do espírito. Quem afirma que a hora de dedicar-se à filosofia ainda não chegou, ou que ela já passou é como se dissesse que ainda não chegou ou que já passou a hora de ser feliz. Desse modo, a filosofia é útil tanto ao jovem quanto ao velho: para quem está envelhecendo sentir-se rejuvenescer através da grata recordação das coisas que já se foram, e para o jovem poder envelhecer sem sentir medo das coisas que estão por vir; é necessário, portanto, cuidar das coisas que trazem a felicidade, já que, estando esta presente, tudo temos, e, sem ela, tudo fazemos para alcançá-la”.
Dessa forma é preciso praticar e cultivar todos aqueles ensinamentos que sempre foram transmitidos, na certeza de que eles constituem os elementos fundamentais para uma vida feliz. Considerando a busca da felicidade como uma meta incansável e insaciável bem-aventurado, como sugere a percepção comum de felicidade, aquele que torna-se ativo nessa busca incessante em ser feliz, não atribuas a ela nada que seja incompatível com a sua alegria, nem inadequado com a sua satisfação, nem incompreensível à sua bem-aventurança; pensa a respeito dela tudo que for capaz de conservar-lhe no intuito de cultivar em seu interior aquilo que ela (felicidade) pode lhe trazer de melhor.
Em hipótese alguma devemos nos esquecer de que o futuro não é e provavelmente não será totalmente nosso, nem totalmente não-nosso, para não sermos obrigados a esperá-lo como se estivesse por vir com toda certeza, nem nos desesperarmos como se não estivesse por vir jamais, pois assim podemos nos imbuir do sentimento do poderá/deverá vir e esquecendo-nos de viver aquilo que estamos vivendo. Assim, dentre os desejos, há os que são naturais e os que são inúteis; dentre os naturais, há uns que são necessários e outros, apenas naturais; dentre os necessários, há alguns que são fundamentais para a felicidade, outros, para o bem-estar corporal, outros, ainda, para a própria vida. E o conhecimento seguro dos desejos leva a direcionar toda escolha e toda recusa para a saúde dos sentimentos, visto que esta é a finalidade da vida feliz: em razão desse fim praticamos todas as nossas ações, para nos afastarmos da dor e do medo na busca daquilo que consideramos e atribuímos felicidade.
Uma vez que tenhamos atingido esse estado, toda a tempestade da alma se aplaca, e o ser vivo não tendo que ir em busca de algo que lhe falta, nem procurar outra coisa a não ser o bem, estará satisfeito. De fato, só sentimos necessidade do prazer quando sofremos pela sua ausência; ao contrário, quando não sofremos, essa necessidade não se faz sentir. Embora o prazer seja nosso bem primeiro e inato, nem por isso escolhemos qualquer prazer: há ocasiões em que evitamos muitos prazeres, quando deles nos advém efeitos o mais das vezes desagradáveis; ao passo que consideramos muitos sofrimentos preferíveis aos prazeres, se um prazer maior advier depois de suportarmos essas dores por muito tempo. Portanto, todo prazer constitui um bem por sua própria natureza; não obstante isso, nem todos são escolhidos; do mesmo modo, toda dor é um mal, mas nem todas devem ser sempre evitadas. Convém, portanto, avaliar todos os prazeres e sofrimentos de acordo com o critério dos benefícios e dos danos. Há ocasiões em que utilizamos um bem como se fosse um mal e, ao contrário, um mal como se fosse um bem.
Consideramos ainda a autossuficiência um grande bem; não que devamos nos satisfazer com pouco, mas para nos contentarmos com esse pouco caso não tenhamos o muito, honestamente convencidos de que desfrutam melhor a abundância os que menos dependem dela; tudo o que é fácil de conseguir; difícil é tudo o que é inútil.
Os livros mais simples proporcionam o mesmo prazer que as literaturas/iguarias mais requintadas, desde que se remova a dor provocada pela falta: pão e água ou mesmo uma simples leitura de um jornal matinal produzem o prazer mais profundo quando ingeridos por quem deles necessita. A falta que certas coisas, pessoas ou mesmo objetos proporcionam, nem sempre podem ser consideradas como “ruim” mesmo porque certamente a reposição ou o reencontro com a coisa ou pessoa faltante traz uma sensação de satisfação muitas das vezes maior do que aquela que antecedia o sentimento da própria falta (uma dr se enquadra perfeitamente nesse contexto).
Assim, vejo no estudo uma busca incessante de felicidade, não que a cada leitura/sentimento (considero a leitura como algo que sinto e não apenas vejo através dos olhos) esteja concretizada a infelicidade, mas sim na necessidade de que aquilo que é bom e faz bem, necessário se faz continuar a buscar e se embreagar daquilo que faz feliz.

quarta-feira, 14 de novembro de 2012

Futebol e Direito


Foi notícia na internet, principalmente nas redes sociais, a sentença proferida por um juiz de direito da comarca de Cachoeira de Macacu, no estado do Rio de Janeiro (processo 0017395-81.2011.8.19.0012). No caso, o magistrado julgou uma ação indenizatória por danos morais, movida por um consumidor que havia aderido a um pacote do Campeonato Brasileiro, a fim de acompanhar os jogos do seu time — o Vasco da Gama. A operadora de TV por assinatura SKY interrompera o sinal do consumidor, ao argumento de que alguns documentos não haviam sido enviados pelo assinante, o que restou afastado pelo acervo probatório. O consumidor venceu a demanda, tendo o juiz condenado a ré ao pagamento de R$ 2 mil pelos danos morais experimentados. Em síntese, esse é o caso.
A surpresa, contudo, foi a fundamentação do juiz, que faço questão de transcrever, com destaques para a parte principal:
“O dano moral reside no fato de que o autor teve suas expectativas frustradas, perdeu tempo e se indgnou. É bem verdade que sua pretensão seria assistir os jogos do vaco da gama, o que de certa forma atenua a proporção do dano, pois não é possível comparar a frustração de não poder ver um jogo de times que já frequentaram a segunda ou terceira divisão com aqueles que nunca estiveram nestes submundos. Desta forma, o dano moral deve levar em consideração tais fatos. Exemplificando, se fosse o fluminense, por ter jogado a terceira, valor ínfimo, o vasco e botafogo, por terem jogado a segundona, um pouco maior, já o glorioso clube regatas do flamengo, que jamais frequentou ou frequentará tais submundos, o dano seria expressivo” (sic).